As quintas foram uma característica dominante na paisagem rural alcaidense, quer como forma de organização para explorar a terra, quer como forma de povoamento disperso, ou, ainda, como forma estruturada da sociedade, diferenciada por estratos consoante o lugar ou a área de habitação, e mesmo perante a contribuição para a sustentação do clero, pois, enquanto os habitantes da povoação davam como folar uma prestação pecuniária indiferenciada, aos moradores das quintas, que viviam nestas em permanência, o costume exigia a dádiva de galinhas ou queijos.
Quinta é uma exploração agrícola, de relativa extensão, que pode ser propriedade própria, arrendada ou, menos vulgar, de parceria, com casa de habitação, palheiro e cómodos para os animais, na qual, os próprios, os arrendatários ou os parceiros vivem em permanência, sendo denominados quinteiros.
A palavra quinteiro é utilizada tendo como referência o proprietário das terras, o patrão, ou seja, aquele que reside na quinta de alguém ou é quinteiro de alguém, enquanto lavrador tem como referência a profissão ou a ocupação de laborar a terra, que pode ser própria ou de outrem.
As quintas tiveram muita importância no desenvolvimento da estrutura fundiária alcaidense, com o desbravamento dos terrenos e a ocupação humana.
A maior parte da população alcaidense ainda há poucas décadas patenteava grandes dificuldades económicas, atenuadas, depois de 1970, em virtude da emigração e do abandono da actividade agrícola a tempo inteiro, com a procura de actividades mais interessantes e lucrativas. Até meados do século XX, a maior parte da população ocupava-se nas tarefas agrícolas, com as famílias subsistindo com o trabalho das terras, arrendadas aos patrões, ou trabalhando à jorna, isto é, ao dia, com direito a uma retribuição diária: o salário ou a jorna. A jorna podia ser a seco, paga apenas a dinheiro, e a de comer, quando o trabalho era pago parte em dinheiro e parte em comida.
Até 1976, o trabalho agrícola à jorna ou assalariado processava-se desde o nascer até ao pôr-do-sol, correspondendo o pôr-do-sol ao toque das Trindades ou Ave-Marias. Contam os velhos trabalhadores que os patrões, senhores das terras, davam 100$00 (cem escudos) ao sacristão para tocar o mais tarde possível às Trindades, para obrem mais uns minutos de trabalho
A maioria da população estava subordinada e dependente de uma dúzia de grandes proprietários, que controlavam não só os aspectos económicos, como também os religiosos e mesmo familiares.
As quintas estão relacionadas com a grande propriedade. As 45 quintas, registadas no Mapa 1, estavam na posse de nove famílias, habitadas por rendeiros. Depois dos anos 70 do século passado, algumas quintas foram vendidas a emigrantes ou a antigos quinteiros e rendeiros, encontrando-se algumas parcialmente cultivadas, especialmente com pomares ou mesmo abandonadas.
A ocupação humana, na área da freguesia, evoluiu ao longo do século passado, reflectindo-se na situação económica e nas mentalidades. A população era identificada pelo lugar em que habitava. Os indivíduos do povo residiam na povoação, os quinteiros habitavam nas quintas, os moleiros moravam nas azenhas. Incluído nas quintas, encontrava-se um pequeno grupo de ferroviários, os da estação, a residir nas imediações da Estação dos Caminhos-de-Ferro.
Em 1911, em fase de expansão populacional e ocupação dos campos, habitavam nas quintas e nas azenhas 148 pessoas, 11% da população total, que era de 1.356 almas.
Em 1940, os campos do Alcaide albergavam o máximo de moradores, com 317 quinteiros, moleiros e ferroviários, ou seja 20% da população total de 1.521 habitantes, em 45 quintas (Mapa 1), 13 azenhas e Estação de Caminhos-de-Ferro.
Em 1960, embora com um nítido abandono das terras, ainda habitavam 255 pessoas, nas quintas, nas azenhas e na Estação, numa percentagem de 21% da população total, que era de 1.237 almas. A percentagem de habitantes fora do povo é sensivelmente igual à observada em 1940, porque a saída para a emigração e para as cidades se verificou, simultaneamente, tanto nos habitantes da povoação, como nos das quintas.
Em 1981, as quintas estão quase despovoadas, apenas com 23 residentes, 3% de uma população total de 769 habitantes.
Em 1990, viviam fora da povoação 25 pessoas, em nove quintas, uma azenha e Estação de Caminhos-de-Ferro, desconhecendo-se o total da população que deve ter diminuído desde o censo de 1981 (Mapa 2).
Actualmente, apenas estão habitadas quatro explorações agrícolas, semelhantes às tradicionais quintas, orientadas para a subsistência familiar, com excedentes para o mercado, com as famílias a viverem junto das terras, três do Alcaide e uma oriunda de outra localidade, além de uma exploração, com razoáveis dimensões, orientada para a pomaricultura. Das azenhas, resta uma que não funciona há uma década, já sem a roda motora.
Em finais do século XX, as quintas habitadas situavam-se nas imediações da estrada. As pessoas habituaram-se a uma nova visão do mundo, a um novo estilo de vida e rejeitaram viver no isolamento dos campos.
Os trabalhadores deslocam-se para as tarefas agrícolas e regressam à sua casa, no povo, onde habitam regularmente, com melhor conforto. A população passou a viver no povoado, perdeu-se o povoamento disperso, que animou a paisagem rural alcaidense durante décadas, porque os tempos mudaram. Da vivência campesina, ficaram marcas visíveis, como as habitações abandonadas, algumas em ruína.
Em 1991, foi iniciada a electrificação das zonas rurais alcaidenses, o que melhorou as condições de vida das pessoas residentes em quintas e beneficiou as terras, mediante as novas condições de trabalho que a energia proporciona.
Os jovens de hoje mercê de outros atractivos mais interessantes e de novas mentalidades, em vez de seguirem os caminhos do trabalho rural, apanham a camioneta para a cidade, no caminho das escolas, do escritório, da construção civil ou de outras ocupações. Se regressam ao trabalho agrícola, é a tempo parcial, especialmente no tempo das sementeiras e das colheitas .
Quinta no sítio do Covão.
Rebanho numa quinta.
Casa de quinteiro, em Adenouro.
Casa de quinteiro numa antiga quinta do visconde do Alcaide.
Quinta: em primeiro plano, o palheiro; em segundo plano, a casa de habitação do quinteiro.
Quinta - O palheiro: no segundo piso, guardava-se a palha e o feno para os animais ; o primeiro piso era o lugar onde eram acomodados os bois, animais de trabalho.
Lugar de Torrinha, em primeiro plano, onde existiam duas quintas com quinteiros.
Terras baixas do Alcaide, lugar do Prado, em primeiro plano, onde existiram quintas habitadas.
Ruinas de forno em quinta abandonada, no lugar de Fórneas.
Transporte em carro de bois, numa quinta no lugar de Tanque.
Mapa 1 -Quintas habitadas em 1940.
Mapa 2 - Quintas habitadas em 1990.