Por António Salvado Ferreira
(Professor Primário)
Que orgulho eu sinto em dizer minha terra!
Tão justificado ele é, que me leva, meus queridos leitores, a razão ao conhecimento verdadeiro da existência de patriotismo, de bairrismo e de independência. Ai de mim, se não dissesse minha terra! Um patriotismo podre, bairrismo inexistente e o significado da independência morta. Seria um espírito como a plasticina, amolgável a todas as vontades, a todas as ideias e a todos os caprichos que ora me mergulhariam num mar de prazeres, ora noutro de inquietações e de repelões.
Aonde chegava? À vida permanentemente sobressaltada, trazendo-me, consequentemente, para me embrulhar, a túnica da ignomínia e da hipocrisia.
Mas, como tenho aquele orgulho, repito, justificadíssimo, não posso, nem devo deixar de ser bairrista, lutando para a cantar com a sua paisagem digna de ser pintada na mais fina tela com as suas matas enormes de castanheiros e pinheiros, com os seus pomares e vergéis, cujos frutos saborosos são de fama invulgar.
Cantá-la-ei com as suas águas abundantes e cristalinas que, de socalco em socalco, vão chorando saudades de alcaidenses ilustres.
Cantá-la-ei na sua igreja e torre majestáticas, onde, naquela, a talha concretiza a mais fina arte.
Alcaide – minha terra – onde tenho as jóias mais preciosas – meu e minha santa mãe – como todos os pais de lá, que tão bem sabem encaminhar seus filhos no caminho da honradez, do patriotismo e da hospitalidade, eu te saúdo!
Eu te saúdo, Alcaide, que, como sentinela sempre vigilante da Cova da Beira, mostrastete sempre altaneira e altruísta, seguindo a par e passo o caminho do bem comum.
De hoje a oito dias, estarás em festa, festejando com o maior esplendor, S. Pedro, o seu orago.
Que jamais deixes de dar aquele cunho folgazão à custa dos ranchos das tuas raparigas loiras e esbeltas, nos cantares, nas fogueiras e à recepção dos teus visitantes. Que as tuas cantigas, como,
S. Pedro, para ver as moças,
Fez uma fonte de prata;
As moças não vão a ela
E S. Pedro todo se mata.
Sejam cantadas com aquela harmonia, só própria das tuas raparigas, inigualáveis em garganteios semelhantes a trinados de rouxinóis, que nos fazem recordar a quadra do poeta e tantas vezes cantada por elas:
As aves, pelas ramadas,
Cantam todo o santo dia;
Canções lindas, perfumadas,
Canções cheias de alegria.
Alcaide, minha terra, onde a vida se passa quase sem sentir, eu te canto, eu te elevo, eu te saúdo.
Alcaide, XVI/VI/MCXXXVI
(Gardunha, 21 de Junho de 1936)
Alcaide - Praça Joaquim Gil Pinheiro; nota-se o cais da capela de São Sebastião, 1941.
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